quinta-feira, 24 de março de 2016

O Menino do Pijama Listrado


A resenha dessa semana é esse livro maravilhoso que retrata com um quê de inocência os horrores da Guerra. Adaptado para o cinema em 2008, é uma ótima opção para quem, apesar de toda a tristeza que a história traz, aprecia lições de amizade onde a barreira das diferenças sociais e humanas não tem limite algum.
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Lucas vive sua infância como qualquer garoto comum, vai à escola, brinca com os garotos da rua, seus três melhores amigos e não entende nada do que se passa no mundo dos adultos. Situação muito bem vinda quando se vive em meio a Segunda Guerra Mundial.


O Menino do Pijama Listrado vem com uma visão totalmente infantil, em nenhum momento é tocado no assunto Guerra, nem nazismo, nem Hitler nem nada, só o que sabemos ao ler é o que acontece pelos olhos de Lucas.
É seguindo essa visão que vemos Lucas deixar para trás seus amigos e sua casa para ir morar em um casarão que fica junto ao novo emprego de seu pai, e que, aliás, é um péssimo lugar para crianças, sozinho em uma mansão feia e velha, e principalmente, sem outras crianças para brincar, a não ser sua irmã Gretel, que em seu ponto de vista, é um caso perdido.
Lucas sabe que seu pai, sempre dentro de um uniforme lindo e bem passado, trabalha para o Fúria, ele não sabe bem o que o pai faz, mas julga ser algo importante e tem orgulho disso. Enquanto espera que o tempo necessário passe nessa casa longe de tudo e de todos, sempre com esperança de voltar para sua verdadeira casa, ele começa a fazer algo para se entreter, é aí que começa a desvendar o novo lugar onde vive.
A primeira coisa que teve vontade ver mais de perto era a cerca grande e alta que ficava a alguns metros da casa e que sempre observava da janela de seu quarto; as pessoas lá pareciam sempre estar de pijama, assim como as pessoas que cuidavam dos afazeres de sua casa, assim como o cortador de batatas que um dia o ajudou quando caiu de um balanço e se feriu, ele dissera que era médico em algum outro lugar, e Lucas não entendeu porque agora descascava legumes.
Sem consultar ninguém, Lucas vai até a cerca e acompanha sua extensão até o ponto em que encontra um menino sentado próximo a ela, porém, ele estava do outro lado, e Lucas ficou muito triste, pois se estivesse do mesmo lado, poderiam brincar. Era o primeiro menino que encontrava, e, no entanto, estava do outro lado da cerca.
O menino se chamava Shmuel, e incrivelmente havia nascido no mesmo dia que ele; tinham a mesma idade, nove anos, e por isso Lucas achava que eram quase gêmeos. Mal sabiam eles que havia muito mais do que apenas uma cerca que os separava, mas universo infantil que John Boyne criou, essa barreira é algo sem a mínima importância.
Lucas começou a ir até a cerca com frequência e sempre encontrava Shmuel sentado lá, conversavam e comiam lanches que o outro menino aceitava com muita alegria, pois parecia sempre estar com fome.

O Menino do Pijama Listrado conta uma história de amizade num tempo difícil, onde apenas os inocentes podiam viver e criar laços sem entender a época pela qual estavam passando. Fiquei impressionada quando descobri que o autor escreveu o livro em dois dias e meio. Dois dias e meio, imaginem! É um romance simples e ao mesmo tempo profundo, retrata a inocência onde só a horror, e mostra como pode ser fantástico o mundo que as crianças criam sem saber da realidade na qual vivem.

Título: O Menino do Pijama Listrado
Autor: John Boyne
Editora: Seguinte (Companhia das Letras)
Páginas: 186
Ano: 2007

domingo, 20 de março de 2016

O Velho Vestido de Noiva

Olá, leitores!

A resenha da semana é do livro “O Velho Vestido de Noiva” da nossa autora parceira Ana Ferrarezzi.


"Amélia se depara com uma devastadora notícia. Seu marido, o homem a quem se dedicou inteiramente durante trinta anos, pediu divórcio. Sem saber como prosseguir com sua vida, e aguardando que um milagre venha lhe dar uma direção, ela leva o seu vestido de noiva para uma reforma. Então, no meio do caminho, depara-se com um desdobramento inesperado.Fábio é dono de um bistrô famoso no Recreio, Rio de Janeiro. Desde seu traumático divórcio, abraçou uma vida solitária. Até se deparar com Amélia no ateliê de sua irmã, Letícia. Apesar de intrigado com a tristeza exposta nos olhos da bela mulher, manteve sua rotina. Então, ao caminhar pela rua, esbarra em seu desdobramento inesperado. Um livro intrigante, criativo, que acompanha com sensibilidade a transformação na vida desses dois personagens."

Ana nasceu recentemente, no Rio de Janeiro, aos 40 anos. Ela é Psicóloga, Artista Plástica e Escritora; tudo ao mesmo tempo. Possui um estilo interessante. Seus enredos são envolventes, bem-humorados, e capazes de transportar o leitor à um mundo completamente novo.
 O livro é um romance, que conta com muitas tramas, mistérios, surpresas, histórias a serem desvendadas e esclarecidas. Foi lançado pela editora Novo Século, com o selo Talentos da Literatura Brasileira.
Como adicional ao encanto do livro, ele vem com um humor sutil e envolvente, sensualidade e uma grande lição de vida, tornando a história única e significativa.
Retrata o quanto podemos nos perder em meio à rotina. Como  o passar do  tempo pode matar nossos sonhos, nossa essência e minimizar nosso poder de reação.
Amélia foi uma jovem adorável, cheia de vida e expectativas. Casou cedo e apaixonada. Acreditou que isso seria o bastante para sua vida.
Ao passar os anos, desistiu da sua graduação. Encontrou novos sonhos no mundo das artes, mas não teve encorajamento para prosseguir nesse caminho, não vendeu uma obra sequer.
A garota que outrora foi uma sonhadora, pensando em ser uma profissional de sucesso, vê seu casamento ruir após longos anos.
O casamento dos sonhos tornou-se apático, morrendo dia após dia, sem que ela pudesse fazer nada para mudar esta realidade. Apenas o medo de Amélia o mantinha em pé.
O medo do desconhecido a prendeu nesta rotina. Nunca trabalhou, sempre foi sustentada por Murilo. A dona de casa ideal, sempre preocupada com o bem estar do marido, vivendo mais por ele do que por si mesma.
 Murilo, um grande advogado com prósperos negócios, prestigio e muito poder, adquirido nos anos de profissão, mantinha essa comodidade, de ter uma mulher submissa e dependente ao seu lado.
Amélia perdeu sua autoestima, deixou de se admirar como mulher, deixou que o tempo apagasse de sua memória tudo aquilo que era atrativo perante os olhos de outras pessoas, tornando-se assim insegura e temerosa.
Ao ver seu casamento chegar ao fim, sendo abandonada por Murilo. Trocada por uma mulher mais jovem, Amélia se vê perdida, observando tudo que lhe parecia seguro ir por água abaixo. Buscando uma espécie de milagre, que lhe devolveria a segurança que sempre a acompanhou. Assim ela decide reformar seu velho vestido de noiva, acreditando que a restauração do mesmo levaria à restauração da sua realidade perdida, do casamento fracassado, de tudo aquilo que parecia a sua única saída.
A mesma reforma levou a uma nova perspectiva de vida. Ao chegar ao ateliê conheceu Fabio, homem intenso, sedutor e carismático. Dono de um famoso restaurante, que desde o primeiro olhar, se viu profundamente atraído por Amélia.
Buscando se reencontrar, ela lhe pede um emprego, e é atendida. Assim começa a se redescobrir.
Ao atingir este ponto, os desvios inesperados a levaram a mudar sua vida e seus conceitos. Deixou de ser uma dona de casa submissa e sustentada pelo marido para lutar pela sua independência. Garantir seu sustento vindo do seu próprio esforço, recuperar a autoestima e sentir-se desejada novamente. Ela percebe que pode ser mais que um objeto nas mãos de Murilo.
Após a surpreendente separação, o amor de Fabio a conduziu por outro caminho, redescobrindo assim a alegria de viver.
Mas como em todas as histórias de amor, esta também teve dificuldades. Estas irão testá-la, desafiando Amélia a lutar pelo homem que ama e pela sua felicidade.

Cada capítulo do livro tem o poder de nos fazer reviver situações que acontecem em nossa própria vida, podendo comparar com o que acontece com Amélia. Pontos fracos e fortes, dramas, medos, superações. Assim podemos nos inspirar na sua coragem para melhorar nosso dia a dia.
Só se vive uma vez, a partir do momento em que nossos sonhos e desejos chegam ao final, morremos lentamente por dentro, um pedaço por vez. Achamos que não podemos alcançar nossos objetivos ou a admiração dos demais.
Nos sentimos tão singulares, que o nosso amor próprio nos abandona. Chegamos a deixar de viver, para apenas existir. Atolados em uma rotina de infelicidade e arrependimentos, contando os dias até o fim da vida, sem nenhuma grande contribuição para o ambiente em que nos encontramos.
A felicidade está ao nosso alcance, porem às vezes necessitamos de um empurrãozinho do destino, uma ajuda dos desvios inesperados para encontrá-la.
E nesse momento, devemos abandonar o medo e a insegurança, para assim segurá-la firme, pois somos merecedores de todas as coisas boas que a vida nos traz.
Recomendo a todos esta leitura. A escrita fluida e encantadora me conquistou de imediato. A sensibilidade com que os temas corriqueiros são abordados me fez refletir. E o bom humor e mistério contido nas entrelinhas foi o toque final para tornar este um dos meus livros favoritos.
Que a mensagem trazida na história de Amélia esteja sempre conosco. Despertando nosso espírito de luta e inconformismo com aquilo que não nos faz bem e nos guiando rumo a felicidade.
Siga a autora no Facebook, para acompanhar seu trabalho.


Adicione o livro nos seu Skoob, (só clicar ali.)
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Título: O Velho Vestido de Noiva
Autor: Ana Ferrarezzi
Editora: Novo Século
Ano: 2015
Páginas: 224

terça-feira, 8 de março de 2016

Toda Luz que Não Podemos Ver


A Segunda Guerra Mundial foi plano de fundo para incontáveis histórias de vida. Em Toda Luz que Não Podemos Ver, Anthony Doerr nos apresenta dois personagens principais distintos que, mesmo em lados opostos da guerra, acabam cruzando seus destinos de uma forma inevitável e inesquecível.


Marie-Laure LeBlanc tem seus últimos vislumbres do mundo aos seis anos de idade, pouco tempo depois, ela está cega. Seu pai é chaveiro do Museu de História Natural da França e cria para ela uma maquete do bairro onde vivem, para que ela aprenda a andar sozinha sempre que precisar.
Em uma região de minas da Alemanha, Werner é um órfão que vive com sua irmã em um lar para crianças. Quando encontra um rádio velho e consegue consertá-lo, não poderia imaginar que seu talento para consertar e lidar com esses aparelhos lhe arranjaria uma vaga em uma escola nazista.
Quando finalmente a Guerra se aproxima, é confiado ao pai de Marie-Laure uma grande missão, transportar um tesouro que pode ser o bem mais precioso da França. Quando a missão fracassa e ele não encontra o destinatário do tesouro, parte para Saint-Malo em busca de abrigo, cidade onde mora seu tio, um veterano da primeira Guerra que é atormentado por fantasmas do passado e há muitos anos não sai de sua própria casa. Enquanto o tempo e a Guerra vão se alastrando, com uma riqueza inimaginável de detalhes, o livro vai contando a história desses dois personagens em uma época que abalou as estruturas do mundo todo. Marie-Laure ganha uma nova maquete para se guiar em Saint-Malo e Werner, na Alemanha, projeta rádios transmissor-receptores enquanto espera a idade certa para ir para frente de combate.
Nesse mesmo contexto, o sargento-mor Reinhold Von Rumpel sai pelo mundo atrás de pistas de um místico diamante que teria o poder de trazer a imortalidade a quem se apoderasse dele, com a esperança de se manter seguro perante a guerra e curar-se de um mal que aos poucos leva suas forças, ele fará o que for necessário para encontrar essa pedra.
Intercalando personagens, tempo e realidades diferentes, Anthony Doerr conseguiu escrever um livro muito mais do que Incrível, há muito tempo não lia uma história tão bem escrita, tão rica em detalhes e que nos cativa a cada página; escrito em capítulos curtos, podemos ir imaginando como tudo vai acontecer, mas prever como tudo se encaixará no final, é impossível.

Muito merecidamente ganhou o prêmio Pulitzer de ficção de 2015, e sua adaptação para o cinema já está a caminho. Com toda a certeza será um dos filmes mais esperados de todos os tempos. Temas que retratam a Segunda Guerra Mundial são sempre delicados. Toda Luz que Não Podemos Ver tem delicadeza, amor, amizade, compaixão e esperança, sentimentos conflitantes com o cenário no qual está descrito, mas que mostram que as imposições definidas pelo lado pelo qual se luta são seguidos fielmente apenas por quem quer que assim seja, mesmo em uma guerra.

Título: Toda Luz que Não Podemos Ver
Autor: Anthony Doerr
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 528