sábado, 2 de abril de 2016

O engano de Chapeuzinho Vermelho



     Como hoje, 02 de Abril, é o dia Nacional do Livro Infantil, resolvi compartilhar com vocês o meu conto, O engano de Chapeuzinho Vermelho. Nessa longa caminhada que é o sonho de me tornar escritora e autora, já dei meu primeiro passo, e começo assim, com um conto publicado na Coletânea Palavras do Brasil, da Editora Casa Cultura
    Então, boa leitura e espero que gostem *--*
***



 Nunca é fácil contar realmente o que aconteceu em determinado episódio da vida de certos personagens. Mesmo assim, vou contar a minha versão sobre essa incrível história que até hoje intriga quem a conhece. Afinal, qual foi realmente a intenção daquele lobo ao fazer o que fez e que todos sabem - na história que eternizou a famosa Chapeuzinho Vermelho?


    Foi  tanto tempo que posso até esquecer alguns detalhes em minha memória, mas eu estava lá como sempre estou, afinal, sou o Vento e nada escapa aos meus olhos. Naquela tarde, eu estava muito calmo e por isso tenho bastante certeza de tudo que presenciei. 
    O lobo era um animal muito temido na floresta, não que realmente fosse alguma ameaça, mas sua aparência feroz e a fama atribuída a alguns outros membros de sua família o fizeram ser visto como um animal não amigável as outras espécies. Já cansado da solidão em que se encontrava, resolveu que arrumaria um amigo naquele mesmo dia. Sendo assim, puxaria assunto com o primeiro ser que aparecesse em seu caminho. 
   Foi nesse momento que a conhecida menina vestida de vermelho apareceu. Eu já a conhecia, e sabia de todas as instruções que seus pais sempre lhe davam para que não conversasse com estranhos pelo caminho e também, para que não se aproximasse do perigoso lobo mau que habitava a floresta. Chapeuzinho, como não era boba, lembrou-se desses conselhos assim que avistou o lobo em sua frente. 
     Eu sim posso dar uma noção melhor do que realmente aconteceu nesse histórico dia, pois sei que ao mesmo tempo em que o lobo queria desesperadamente arrumar um amigo, a menina queria muito não chamar a atenção do mesmo e fugir o mais depressa possível do lugar. Assim que ela conseguiu explicar ao lobo que apenas iria visitar sua vovó, saiu ligeiramente e na pressa, sem querer pegou o caminho mais longo até a casa da avó. O lobo, por sua vez, sem querer desistir de ter para si uma amiga tão gentil e educada como ela, teve uma ideia simples: Já que a menina gostava de sua avó, se ele se fizesse passar por ela, talvez percebesse que ele não era assim tão mau. Certo de que era um ótimo plano, partiu correndo pelo caminho mais curto e chegou primeiro à casa da velhinha. 
     Ao chegar, percebeu que a vovó encontrava-se em um sono profundo, pois roncava sem consciência da grande barulheira que fazia. Sem querer acordá-la, o que era mais fácil do que explicar o que tinha em mente e fazer com que concordasse, o lobo resolveu erguê-la no colo e colocá-la na rede que tinha visto entre umas árvores no outro lado da casa. Com sorte a menina viria pelo outro lado do caminho e não notaria a avó dormindo lá fora. 
Logo que colocou algumas roupas da velhinha que havia encontrado, deitou-se na cama e ouviu que alguém se aproximava pelo lado de fora. Pela voz, reconheceu que era sua futura amiga e disse-lhe para entrar. lobo ainda não sabia o que fariapensara em aceitar os doces tomando cuidado para deixar um pouco para a verdadeira vovó, conversariam sobre algumas coisas legais e depois, quando ela notasse que ele poderia ser tão legal quanto sua vovó, lhe contaria a verdade. 
     A menina muito esperta, no entanto, percebeu que havia algo errado, pois sua avó era tão pequena e frágil, que não poderia naquele dia carregar aqueles traços rústicos e de certa forma grosseiros mesmo que estivesse adoecida. Ambos sabiam que eu estava ali, sempre sabem, pois sempre estou em todos os lugares, o que nunca poderiam imaginar, porém, era que eu prestava atenção e que hoje, tanto tempo depois, revelaria a verdade sobre o famoso diálogo eternizado no quarto da vovó. 
     Pude perceber na mesma hora que Chapeuzinho Vermelho havia descoberto o lobo por baixo dos pijamas floridos de sua avó assim que o vira. Não sabendo das reais intenções dele, também sem saber o que acontecera com sua querida vovozinha, ela optou por alongar a conversa enquanto pensava em como fugir da casa sem ser comida pelo lobo. Foi nesse momento que uma ideia horrorosa passou pela cabeça da menina. “E se esse malvado lobo comeu minha pobrezinha vovó?” A menina com muito medo começou a notar melhor o animal a sua frente e achou estranho que algumas partes de seu corpo estivessem grandes, maiores do que estavam antes, pelo que se lembrava, e aparentemente mais estufadas...  Foi com esse pensamento temível que ela começou interrogá-lo a fim de descobrir se sua vovó estava onde imaginava. 
     O que poucos na história sabem é que, na verdade, enquanto o lobo respondia às famosas perguntas de “que olhos grandes você tem?” ou “que nariz grande você tem?, Chapeuzinho sem se dar conta, havia deixado a cesta de doces descoberta a seu lado; e enquanto o lobo respondia “é para te ver melhor” e “é para te cheirar melhor”, o lobo não se referia à menina, mas sim a seu doce predileto que se encontrava dentro da cesta – Marshmallows, exalando aquele aroma de morango e com aquela textura que só uma nuvem fofa e macia poderia imitar. Foi para a infelicidade daquele lobo que, justamente ao perguntar sobre sua boca enorme, ele resolvera que não aguentaria mais a espera e pulou em direção à menina gritando que sua boca servia para comer melhor. Sem saber que ele desejava os doces que estavam do seu lado e não a ela, Chapeuzinho começou a gritar por socorro e correu desesperadamente para a porta da casa; mesmo momento em que o famoso lenhador apareceu e “salvou” a menina das garras do lobo feroz. 
     A avó logo foi encontrada roncando ainda em alto e bom som, e não teve o que fazer a não ser aceitar a versão de sua neta sobre o feroz lobo mau e dizer que não sabia como havia caído no sono na rede do lado de fora de sua casa. Com os curiosos chegando para espalhar a notícia, deduziram que o lobo havia fugido pela janela do quarto com medo do lenhador; ninguém se deu conta de que a cesta de doces também havia pulado a janela. 
Então é isso, a versão mais verdadeira que o velho e sempre presente Vento pode dar, tudo não passou apenas de um grande mal entendido e de um bom bocado de gula. Se me perguntares o porquê de revelar isso somente agora? Bom, as pessoas não gostariam de saber que eu, estando observando tudo e sempre, possa sair por aí, espalhando os seus segredos. Por isso peço gentilmente que isso fique entre nós. O importante é que agora você sabe que o “Grande Lobo mau”, foi apenas um animal com uma descontrolável queda por Marshmallows.















Ano: 2015
Páginas: 144
Idioma: Português
Editora: Casa Cultura
Autores: Diversos

Francieli da Rosa e Silva

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